Faço esse questionamento a você, pois o fiz a mim também. Minha prioridade durante muito tempo foi ser a amiga legal, a parceira, a apoiadora, sempre disponível para ouvir e ajudar quem precisasse. Quem acabou ficando sem atenção nessa história toda? Eu mesma, pois não dava atenção a quem mais clamava por ela!
Até me entender e perceber que eu só posso ajudar alguém depois de me ajudar levou um tempo, muita terapia, e algumas amizades. É difícil acompanharmos as mudanças das pessoas ao nosso redor – já é complexo acompanhar as nossas, não é verdade? –, e imagino que deva ser confuso compreender que aquela pessoa que jurávamos conhecer já nos parece um estranho.
O que costumo dizer é que a única certeza é a mudança, ainda bem! Eu já não reconheço a Josiane de anos atrás nem nas fotos e muito menos nas atitudes e um pouco nos desejos e ambições. Eu me tornei uma outra pessoa, na verdade deixa eu reescrever essa frase, eu me encontrei. Já imaginou uma pessoa tateando o mundo com os olhos vendados, se batendo em tudo, tropeçando, se machucando? Essa era eu sem me ouvir, seguindo muito o que as pessoas ao meu redor estavam fazendo, me comparando a elas ou escutando seus conselhos, indo por caminhos que nada tinham a ver com o meu.
Que perda de tempo, que atraso, quanto investimento para nada… Por um período eu pensei dessa forma, mas o amadurecimento traz diversos benefícios, e o entendimento de uma forma mais ampla é um deles. Percebi que todos os episódios e experiências por que passei me tornaram essa Josiane que eu estou construindo, cada um deles teve sua parcela nesse crescimento. A perspectiva pela qual você olha as coisas muda todo o cenário. Passei a ser grata pelas oportunidades – travestidas de experiências ruins – que apareceram para eu descobrir o que eu não queria e como um grande passo de autoconhecimento, você saber o que não lhe faz bem, e se respeitar a partir de então, é incrivelmente libertador.
Eu não gosto de lugares cheios, me deixam exausta porque fico muito alerta. Não gosto que me interrompam quando estou fazendo alguma coisa, eu perco a linha de raciocínio e para mim é muito difícil voltar. Eu não quero ser comissária, estudei para tal, desejei por um tempo, depois percebi que o que queria de verdade era viajar pelo mundo e estava tentando encurtar o caminho. Aliás, aqui um parêntese para dizer que tentar ir por atalhos só nos faz duplicar o trajeto. Não existem atalhos para as coisas que queremos de verdade. Nós buscamos eles, pois somos seres imediatistas e preguiçosos e queremos algo, mas que não nos demande tempo e energia, sem muita dedicação e que seja do dia para a noite. Isso não acontece.
Falei acima alguns pontos que fui ligando enquanto fui me percebendo, me permitindo olhar para mim – não é uma tarefa fácil e muito menos agradável, porém, necessária. Algumas delas foram doídas falar em voz alta e até com um pouco de vergonha lá no fundo. Como eu não me identificar em nada com o curso em que me formei porque escolhi pelas razões erradas, fazer dinheiro rápido – só esqueci de verificar que era um curso extremamente novo e quase nada difundido. Resumo: sem emprego (história para um outro momento). Eu não quero trabalhar para os outros, quero ser minha chefe. Testar, tentar, errar e ir mais uma vez se tornou meu mantra, nenhuma experiência mais foi vista com as lentes do erro, da perda de tempo, escolha errada etc. Quando você para de se cobrar tanto, tudo perde um pouco da dimensão que tinha. Toda e qualquer situação é oportunidade, e ela pode servir para crescer ou para aprender, e isso não tem que ser separado entre bom e ruim, certo ou errado, é simplesmente o resultado de uma escolha e ponto. Não trate como cenários irreversíveis, tudo muda o tempo todo, inclusive você.
Se eu pudesse dar uma dica, seria comece a se conhecer, tire tempos durante o dia para se ouvir, se cuidar, se comunicar com você, faça questionamentos de por que algo irrita, emociona, alegra, entristece você, muitas vezes ligamos nossos sentimentos no automático e vamos vivendo sem nem saber por que razão essa ou aquela coisa exerce tanta influência sobre nós. Muitas vezes o bicho-papão pode ser um pequeno chihuahua, mas enquanto você não olhar para ele de frente ele vai seguir sendo do tamanho que você permitir na sua cabeça – e ela normalmente visualiza o pior cenário possível. Dê à situação o tamanho e a importância que realmente tem. Pare de fantasiar problemas maiores do que são, seja realista e pragmático (essa última frase eu coloquei aqui para mim, para não esquecer, se lhe servir, ótimo!).
Se respeite, se dê o tempo que muitas vezes você destina aos outros sem nem querer. Se coloque como prioridade, pois você é! Quanto mais você se conhece, mais se respeita e sabe distinguir o que lhe faz bem do que não faz. E seus sins e nãos sairão com muito mais tranquilidade, e menos peso, do seu coração, e tenho certeza de que isso trará um pouco de paz a você. Em um voo, numa situação de emergência, a instrução não é que primeiro você coloque a máscara de oxigênio em você para depois ajudar quem está ao seu lado? A vida é assim também, você só pode ajudar alguém se antes se ajudar. Como eu sei disso? Porque eu trilhei esse caminho e por isso me sinto confortável em falar para você. Deixe que chamem você de egoísta, não dê bola, quando você se escuta e traz à tona o que você tem de melhor automaticamente já estará ajudando as pessoas próximas a você, é um ciclo. Se permita brilhar e você iluminará quem estiver por perto, simples assim.
Isso faz sentido para você?