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13 Maio, 2020

Cultura do cancelamento

Mão de um homem com anel e um x vermelho no meio
Se preferir, ouça o artigo

Já ouviu falar sobre esse termo? A “cultura do cancelamento” foi eleita o termo do ano passado pelo dicionário Macquarie, uma eleição que leva em conta a língua inglesa, mas através das redes acaba se disseminando para outros países. A cultura do cancelamento… “envolve uma iniciativa de conscientização e interrupção do apoio a artista, político, empresa, produto ou personalidade pública devido à demonstração de algum tipo de postura considerada inaceitável. Normalmente, as atitudes que geram essa onda são do ponto de vista ideológico ou comportamental…”. Eu não sei se para você soa pesada essa denominação, mas tenho que admitir que para mim é. A partir de quando fomos encarregados de nos tornarmos juízes da conduta alheia, críticos vigilantes das atitudes de terceiros? Me parece que ficamos na espreita, apostando quem será a bola da vez, ávidos por um deslize de alguém para apontarmos cheios de razão, e quando acontece, chuva de condenações.


Esse termo resumiu o ano de 2019, porém, com a vinda da pandemia ele parece ter se enraizado entre nós. A solidariedade, a ajuda aos demais, a oportunidade de união parece desaparecer quando alguém foge da postura aceitável. Tendo um celular e podendo se esconder atrás dele, algumas pessoas sentem que são invencíveis e possuem o direito de falar o que querem sem ao menos levar em consideração que do outro lado há uma pessoa sujeita a erros e acertos como qualquer um de nós, e o que a diferencia é um holofote em si o tempo todo que não poupa deslizes. “Mas ela é uma pessoa pública, ela tem que aceitar o que falam…” me fez lembrar de uma síndrome bem colocada por uma incrível nutricionista, Lara Nesteruk. A síndrome do estuprador aborda a situação como se a vítima impelisse o agressor a cometer determinada ação, por exemplo, ao usar roupa curta à noite – na cabeça do estuprador –, a vítima está pedindo por aquilo. No caso da pessoa pública, ela está sujeita a qualquer tipo de comentário, e nesse tipo de mentalidade ela tem de aceitar o que vier. Como se, pelo fato de ser uma pessoa pública, ela já estivesse pedindo sua opinião, mas quem definiu que isso é plausível, que isso é bacana? Absolutamente nada nos dá respaldo para julgar e nossa opinião não é obrigatória. Já abordei o assunto sobre dar sua opinião quando ela não é solicitada, no artigo (DANE-SE O OUTRO! É EXATAMENTE ISSO QUE VOCÊ LEU). A não ser que tenham lhe pedido, fique quieto.


Me parece que estamos indo na contramão, retrocedendo a galope, espalhando ódio e rancor sem se importar com ninguém. Não estamos aprendendo absolutamente nada neste tempo confinados, e isso é algo triste. Você é um ser humano e por esse mero detalhe não está exime de erros. Voltemos ao círculo menor, dos que nos rodeiam, pois, se criticamos o famoso, que está distante, como ficam as pessoas próximas que estão fazendo algo que assumimos como uma postura inaceitável? O que não fica tão claro, pelo menos para mim, é por que temos essa necessidade tão grande de sempre ter um posicionamento “ou você está certo ou está errado” e a partir do momento em que você escolhe um lado quem está do outro é inimigo? Em vez de nos unirmos, estamos cada vez mais nos distanciando por acreditarmos estar do lado correto. Hoje pode ter sido outra pessoa, mas amanhã pode ser você, em um escorregão que não queria dar mas não conseguiu evitar. E aí, como ficam os apontamentos, sendo com você é justificável? Sempre é assim: quando estamos falando de nós, queremos uma nova chance ou oportunidade para repararmos nossos erros, mas não pensamos duas vezes em depreciar o outro na primeira oportunidade.


Este artigo tem a finalidade, do fundo do coração, de pedir que você não entre nessa ideia de cancelar pessoas, pois, além de não agregar em nada, lembre que você tampouco está isento de falhas. Além da responsabilidade, o fato é que o reflexo de atitudes como essa, de cancelamento, podem ser muito graves e despertar emoções densas em um momento em que estamos todos fragilizados de alguma forma. Tenha compromisso com você, mas também com as palavras que você utiliza, pois nunca sabemos o que o outro está passando, seja gentil. Dizer que a pessoa pública influenciou negativamente alguém é achar uma outra desculpa para colocar na conta do outro as suas escolhas. Cada um tem o direito de dizer o que quiser, e cabe a você acolher e seguir aquilo que compactua com seus princípios ou deixar para lá. Não somos crianças para colocar nas costas dos outros a responsabilidade de nossas decisões e muito menos para expô-los. Vou dizer por aqui, quantas vezes forem necessárias: você só tem controle sobre suas atitudes, então olhe com carinho e cuidado para elas, sendo fiel a você e suas premissas. Aceite que assim como você o outro precisa aprender por si, e quando ele estiver em um momento de queda não jogue mais areia em cima dele, ajude-o a levantar e, se não puder, pelo menos não atrapalhe.


Fonte: Dicionário Macquarie: Responsável por selecionar anualmente as palavras e expressões que mais moldaram o comportamento humano. (https://canaltech.com.br/redes-sociais/a-cultura-de-cancelamento-foi-eleita-como-termo-do-ano-em-2019-156809/)

Josiane

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