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23 set, 2020

Vá além do amarelo

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Decidi voltar a escrever depois de um tempo parada. As razões dessa pausa ainda serão tema de um próximo artigo, mas hoje quero abordar algo mais profundo, um tema que surgiu em uma conversa trivial com minha mãe, que tinha ido ao hospital e me comentou algo que havia chamado a sua atenção naquelas poucas horas ali. A enfermeira disse a ela sobre a quantidade de tentativas de suicídio que estavam ocorrendo principalmente após o aparecimento da pandemia. Por razões óbvias, entendemos o porquê desse aumento, e em um momento de desespero, de não conseguir mais visualizar opções possíveis o “acabar com aquela dor”, parece a única solução plausível. O Setembro Amarelo, que ocorre desde 2014, é uma parceria entre a Associação Brasileira de Psiquiatria e o Conselho Federal de Medicina, e visa a prevenção do suicídio. Eu sei, ele é um tema denso, daqueles que queremos deixar de lado e fingir que não está ali, mas, desculpe, ele se faz muito necessário e por isso será abordado aqui no meu espaço.

Indo um pouco mais atrás de informações, me impressionou o fato de que a maioria entre os casos, chocantes 96,8%, são jovens com transtornos mentais iniciando com a depressão, e podemos dizer que ela é uma porta de entrada para outras diversas doenças e um sinal de alerta enorme desde sua aparição. Isso me impressionou, mas ao mesmo tempo me pareceu claro o porquê de sua ampla maioria de ocorrências acontecer entre jovens, visto que são eles que estão mais suscetíveis a informações de pouca qualidade ou muitas vezes nenhuma. As redes sociais não são a única culpada, devendo levar toda a responsabilidade por tais consequências, mas são indubitavelmente aceleradoras e impulsionadoras dessas atitudes. A vida perfeita compartilhada através de imagens e vídeos muitas vezes deixa até mesmo pessoas com maior vivência, idade e maturidade tristes, angustiadas e se sentindo inferiores. Imagine o efeito disso sobre um adolescente que somente quer se sentir enturmado se vendo tão distante daquilo tudo?

Ninguém, absolutamente ninguém está isento de problemas, nenhum de nós tem a vida perfeita, todos estamos enfrentando alguma batalha interna em qualquer momento da vida. Se manter firme e em pé no mundo real nos exige muito, muita força, muita garra, muita fé (seja essa em você ou no que você acreditar) e muita vontade de viver. Diversas vezes pode não parecer fácil – e não é –, e está tudo bem admitir que se está triste, com medo, desanimado e sem forças. Porém, é importante ter em mente que é possível mudar isso. Comece acolhendo o que está sentindo, olhe para você antes de qualquer coisa e se pergunte que mudança está ao seu alcance, busque ajuda, e, se não a encontrar nas pessoas próximas, busque um profissional, busque apoio, pois muitas vezes é realmente difícil sair de onde se está sozinho e não há nada de errado em pedir ajuda. Ela se faz cada dia mais necessária em um mundo que tenta a todo custo que nos comparemos uns aos outros, que andemos feito manada, sendo todos muito parecidos, e que nos faz sentir diminuídos ou deslocados a todo instante. Por mais que eu acredite que toda essa singularidade é o seu bem mais precioso, talvez você não esteja pronto para enxergar, então peça ajuda.

Uma sucessão de acontecimentos, na nossa visão ruins, uma fase seguida de outra repleta de desafios pode tirar qualquer um dos eixos, nenhum de nós está livre, e por essa razão não acredite em tudo que vê ou ouve, pois normalmente as histórias lindas que chegam aos seus ouvidos têm muita superação e suor por trás que não foi contado, aquela foto perfeita que você vê, além de poder ter sofrido alterações, pode ser só uma forma de a pessoa por trás dela lidar com seu problema de autoestima se sentindo amada através de likes. Nós sempre vamos estar atrás de alguém, e, se ficarmos nessa sede de nos compararmos, ficaremos cada vez mais ansiosos, nos cobrando, invejosos e sentindo raiva de outras pessoas que não têm nada a ver com o que acontece dentro nós, e é ali que começa tudo. O “vá além do amarelo” aqui é para alertar que não é só durante um mês do ano que temos que falar sobre esse assunto, é só vermos os números, é algo incontestável acontecendo entre nós, e, quanto mais valorizarmos aparências, fotos e redes sociais como métricas de felicidade, mais corriqueiro será, infelizmente.

Cancelar pessoas, xingar e desrespeitar o outro por uma opinião divergente da sua, criticar, criticar, criticar, isso nunca ajudou ninguém a se levantar. Antes de crucificar, pense como você pode ser melhor, um ser humano melhor. A gente nunca sabe o que o outro está passando, além de não saber o que nos espera na próxima esquina da vida, então seja gentil. Você não sabe cada detalhe por trás da história de quem acompanha, mas sabe da sua, então olhe para ela e tente encontrar as partes bonitas que ela tem e agradecer, e as que não forem tão bonitas veja como desafios que o tornam quem você é hoje, e portanto fundamentais. Deixei linkado o site do Setembro Amarelo caso você sinta necessidade de compartilhar com alguém ou para você. Peça ajuda ao menor sinal de que precise.

Josiane

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