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27 Maio, 2020

Deixe eu lhe apresentar a Cláudia

Se preferir, ouça o artigo

A Cláudia está comigo antes mesmo do que minha memória consegue alcançar e me acompanha diariamente nessa caminhada da vida, mas eu não sabia de sua existência e companhia até poucos anos atrás. A Cláudia é bem chata – desculpa aí a sinceridade –, mas é que ela tem o costume de aparecer quando não é convidada e normalmente é bastante inconveniente. Quando eu quero fazer uma coisa, me enche de perguntas e traz à tona situações vividas, totalmente fora do contexto, para me dissuadir de fazê-la. A Cláudia adora um julgamento, tem uma grande inclinação a querer dar sua opinião sobre tudo e todos – chega a coçar a garganta –, ela se acha acima da maioria, superior, sabe? Antes eu não conseguia distinguir tão claramente quando ela falava, até porque achava que éramos uma só e, ingenuamente, achava que ela era legal e só queria meu bem. Me deixava levar por suas ideias, visões, não vou negar que ela tem uma capacidade de persuasão considerável, mas comecei a perceber as sutilezas na sua chegada, onde se sentia mais confortável a interferir, quais momentos eram mais propícios a ela aparecer repentinamente e sua forma taxativa de comunicação. Esses indícios foram me deixando mais alerta para evitá-la. Se você ainda não percebeu, deixa eu ser mais clara, lhe apresento a Cláudia, o meu ego.

Lhe disse no artigo (Abrir os olhos) que o ego não é de todo o mal, pois nada é, mas não não fui tão clara sobre ele ser muito desagradável. Vou ser direta aqui nessa parte. Tudo que você pensa, acha que gosta, defende como sua personalidade, se identifica… pois bem, não é você, e sim seu ego. Eu sei, pode ser que você vá embora agora ou desista de ler esse artigo, mas as verdades precisam ser ditas por mais desagradáveis que sejam. Quanto mais você se identifica com algo, posição, papel que exerce, mais tomado pelo ego você está, e isso em outras palavras quer dizer que você está inconsciente, ou seja, você não tem consciência de suas atitudes, forma de ver a vida e quem você está. Eita, que agora ficou complexo. Na verdade, é isso que nosso ego quer que pensemos para que ele possa o quanto antes tomar posse de seu posto de costume, que é continuar controlando da forma que sempre fez e você consentiu. A Cláudia é essa daí, quer estar no controle de tudo, mas desde que a percebi ela já perdeu, e vem perdendo, muito território, o que a deixa desestabilizada mas ao mesmo tempo buscando outra forma para me “pegar”.

Tá, mas isso é uma corrida de gato e rato? Mais ou menos por aí, cada vez que ela se dá conta que a percebi ela busca encontrar alguma outra forma de se identificar, e por que isso? Porque o pensamento por si só não tem forma, ele é o que é e ponto, mas o ego ele busca controle, ele quer se identificar de alguma forma com algo externo para ter forças e assim buscar algo pelo que lutar. Vejamos o exemplo de uma criança com seu brinquedo preferido, ela está inconsciente pois ela e o ego são um, ela está formando sua personalidade, e a partir do momento em que tiram esse brinquedo ela chora muito, não é verdade? Pois ela se identifica com ele, aquele brinquedo faz parte dela, é como se arrancassem uma parte sua e aquilo lhe dói profundamente e é isso que o ego faz com todos os outros objetos, momentos, papéis que vivemos no decorrer da vida, pois ele nos quer apegados, identificados com aquilo, pois dessa forma ele se vê forte, dominante e superior, do jeitinho que ele mais gosta. Não foi fácil perceber a Cláudia, e vou lhe falar que às vezes – mais do que gostaria de admitir – ela me passa a perna, é ágil, sagaz e quando percebo já estou em sua teia.

Duas perguntas a serem respondidas: Por que trouxe esse assunto e por que Cláudia? Bem, primeiro porque quero que você se liberte de achar e se identificar com todos esses pensamentos que borbulham em sua cabeça a todo instante. Isso são artimanhas do seu ego para manter você ocupado e não fazer o que é de verdade importante para você. Tenho certeza de que chega no final de alguns dias e parece que você não fez nada do que gostaria e tinha se proposto, isso é normal quando estamos sendo comandados por essa voz que está o tempo inteiro dizendo que você deveria fazer isso em vez daquilo, que você não dá conta, que você decepciona a todos, todo mundo dá conta menos você. ATENTE-SE, esse é o tipo de comportamento habitual do ego, ele quer fazer você se sentir incapaz, que sempre falta algo e que você tem que ir atrás. Não deixe ele convencer você, a força, a garra e tudo mais que você precisa estão exatamente aí dentro de você, basta silenciar essa voz incômoda. Não estou dizendo que é fácil, mas é possível, esteja presente e consciente, o ego não consegue se manter ativo dessa forma. Quanto à Cláudia, eu dei um nome ao ego para que cada vez menos me identifique com ele, e quando percebo ele querendo tomar conta já digo: “Tá bem, Cláudia, senta lá agora!”. O ego não gosta de ser percebido, e nem de se sentir ridículo por isso, sempre que dá as caras eu rio, literalmente, e penso “já te vi aí escondido, pode sair”. Isso o enfraquece e desestrutura, mas não o faz desistir, e assim seguimos. Tente ficar atento a ele e depois me conta aqui a experiência com a sua Cláudia.


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25 Maio, 2020

Busque o desconforto intencionalmente

Se preferir, ouça o artigo

Por esse título você deve pensar: “Bem, agora ela já foi longe demais, a vida já tem suas dificuldades por si só e a pessoa ainda quer que eu busque o desconforto intencionalmente, onde quer chegar com isso?”. É bem por aí, pode ser um pouco estranho no início, mas é exatamente essa mensagem que quero lhe passar. Vamos lá, deixe eu tentar me explicar melhor e por que afirmo isso. Obviamente que a ideia aqui não é lhe impor algo que você tenha que seguir, mas sim – como sempre – mostrar uma outra perspectiva, uma nova possibilidade de talvez sentir incentivo para incorporar alguns hábitos na sua rotina que podem ser bastante benéficos, principalmente a longo prazo. De repente você acha algo absurdo e sem a menor chance de querer incluir na sua vida, tudo bem, se assim for, vida que segue, já é um ótimo exercício saber lidar com o fato de que as pessoas têm diversas formas de viver e levar a vida e devemos respeitá-las sempre.

“Mas por que raios você vem me dizer que buscar o desconforto pode ser benéfico?” Bem, sejamos realistas, nós gostamos das coisas cômodas, das situações e dos ambientes que conhecemos, quanto menos surpresas tivermos no meio do caminho, melhor. A questão aqui é que, quanto mais despreparados para tomarmos decisões rápidas, mais a vida vem nos testar, ela fica ali só na espreita vendo se estamos nos desafiando ou não, e caso ela veja nossa inércia entra em ação e, como não nos preparamos para situações incômodas, detestamos, com todas as forças, quando elas aparecem. O que esquecemos com o decorrer dos anos, e da correria da rotina, é que fomos feitos para estarmos em ação e não parados esperando as situações chegarem até nós para lidarmos com elas. Isso é reação, é apagar incêndios conforme eles forem aparecendo, e você dificilmente está pronto para lidar com alguma situação que exija um pouco que seja a mais de você. Essa é a forma que você quer levar sua vida? Quando nos habituamos ao desconforto, até os momentos mais desafiadores se tornam uma circunstância a mais a se contornar e não o fim do mundo, como normalmente rotulamos nossas questões.

Pensando dessa forma, comecei a querer me deixar mais à vontade para cenários adversos. Acordo diariamente às 4h50, não é confortável nem delicioso, e muito menos acordo cantando, principalmente naquele dia de frio intenso em que você daria qualquer coisa por mais dez minutinhos debaixo daquelas cobertas quentinhas – até dou minhas amarradas –, mas levanto, água gelada no rosto e bora iniciar o dia. Se postergo meu despertador, postergo minha vida, é isso que penso quando a vontade de desligá-lo e fingir que não o ouvi vem. Mas se não é agradável, por que você faz? Esse é o ponto, por ser extremamente desconfortável que faço, e isso me fortalece mentalmente, pois, se consigo ter comprometimento diário com algo de que eu não gosto, onde eu posso chegar com algo que realmente queira tendo essa persistência? É impossível ganhar de alguém que nunca desiste. Você já havia se perguntando isso ou visto dessa forma? A zona de desconforto mostra, em momentos como estes, o quanto você pode ir longe quando tem um objetivo bem definido em mente. Já experimentou se testar com uma dieta mais restritiva por um período? O tanto de aprendizado, sobre você e seu corpo, que acompanha essa experiência é interessante.

O mesmo acontece com exercícios físicos, que em grande maioria detestamos ficar lá levantando pesos, suando, sofrendo, sentindo dores desnecessárias, e aí que está, eles são de importância fundamental, pois, como mencionei acima, nosso corpo foi feito para o movimento, e se isso não ocorre ele vai travando. Acabamos vendo por uma perspectiva totalmente distorcida, a do conforto, pois é muito melhor ficar no sofá vendo um filme, comendo pipoca, do que fazer um movimento a seu próprio favor. Nos convencemos de que na segunda-feira começamos, mas ela nunca chega, porém a conta do sedentarismo a longo prazo não atrasa. O que quero dizer aqui é que estamos sempre tomando decisões sobre algo de que precisamos nesse momento ou futuramente, mas se não tivermos essa visão ampliada normalmente ficaremos com o imediato esquecendo da importância que o longo prazo tem e os benefícios que o acompanham. Tomar banhos gelados* também é outra forma de se colocar no desconforto, fazendo seu corpo todo se colocar presente naquele momento, sentindo-se alerta e pronto para o que vier. Se você consegue tomar um banho gelado ao acordar, mesmo sendo totalmente desagradável, onde você poderia chegar? De repente naquilo que você tanto sonha?

O conforto é viciante, eu sei, sou um ser humano também, mas quebrá-lo torna você livre, é dar oportunidade a si mesmo de mostrar que você pode sim controlar sua mente, que pode ir além até mesmo do que você imaginava possível. Depois de colocar restrições, cenários incômodos e desconfortáveis na sua rotina, você cresce, percebe que pode lidar com qualquer situação que aparecer. Nem todas as situações ficarão mais fáceis, mas seu jogo de cintura com certeza sim. Dá próxima vez que uma oportunidade de desconforto aparecer, mesmo que você não vá atrás dela, não corra, encare-a e veja que ela só parece horrível, e depois de um tempo você percebe que é possível fazer qualquer coisa a que se propor. Seja seu próprio laboratório, fazendo testes dos seus próprios limites. Muitas vezes nos deixamos levar por nossa mente que quer nos convencer de que não somos capazes de muita coisa. Mostre que ela está errada, essa medrosa. Compartilha comigo se você é do time que busca o desconforto ou se é do grupo que foge para o descanso assim que vê o desconforto vindo.

*Coloquei um asterisco sobre banhos gelados, pois não quero ser irresponsável aqui de incentivar você a fazer isso sem preparar seu corpo para tal. É necessário estar com a imunidade em dia, saudável, não quero ninguém gripado ou baixando a imunidade por agir impulsivamente. Se sentir-se à vontade para a inclusão desse hábito em sua rotina, informe-se sobre o assunto, leia mais e então tome sua decisão. Há uma série na Netflix chamada Goop lab que tem um episódio falando exatamente sobre o assunto – Poderes do frio. Se você ficou curioso dá uma olhada lá.

22 Maio, 2020

Em que momento do despertar estou? Fase 3 – Abrir os olhos

Um dos olhos na foto multicolorido
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Chegamos à fase número 3 do nosso “Em que momento do despertar estou?”. Se você ainda não leu o primeiro e o segundo, aconselho você a ler (Estão aqui e aqui). Lembrando sempre que essa timeline que estou montando junto com você diz respeito a minha caminhada desde o início, e se a sua não se parece nenhum pouco está tudo bem, viu? Nada de desesperos por aqui. Mas de qualquer forma lhe sugiro seguir acompanhando, pois sempre há possibilidade de alguma experiência, dica ou comentário servir para o seu momento presente. Às vezes temos a presunção de ter todas respostas e saber o que estamos fazendo sem querer dar o braço a torcer, e normalmente é o ego falando. É importante estar sempre alerta, pois nosso ego está na espreita querendo ser ouvido, sempre achando que tem razão, aquele ali é rápido, e se você dá o braço ele já quer logo a perna, danadinho. Aproveito para já mencioná-lo e desmistificar essa ideia de que ele é de todo mau, pois nada é, tudo depende da conotação que damos. Se o visualizar, sendo você o observador, há sempre uma oportunidade de aprender, pois quando consegue entender que não é ele e que o querido é tão somente uma voz – chata, eu sei – querendo tirar sua atenção, você mais uma vez deu um passo além, pois percebê-lo é o início da oportunidade de não mais se identificar com ele. Isso é papo para um próximo artigo, então vamos deixar para depois.

Já passamos pela fase do luto/aceitação – que é a inicial –, a da sincronicidade, e agora adentramos na que eu chamo de “Abrir os olhos”. “Mas estou de olhos abertos, tanto que estou lendo esse texto”… Bem, não é bem por aí, vamos aprofundar no assunto para entendermos melhor. Meus olhos a maior parte do tempo estiveram mais fixados em páginas, eletrônicos, buscando coisas belas e habituados a cores e visões normais do dia a dia. Costumo dizer que com um véu por cima deles. Sempre adorei admirar o céu à noite, ver a Lua, as estrelas, na esperança de ser agraciada com uma cadente, mas nada além disso. Pois bem, tenho a lhe contar aqui nesta parte que foi nesse aspecto que percebi uma enorme diferença, a partir do meu despertar, no meu sentir e olhar. O céu começou a me parecer cada vez mais bonito, acompanhar o entardecer, as fases da Lua, mesmo que fosse da janela do apartamento, se tornou meu novo hobby, pois aquilo me parecia tão poderoso fazia eu me sentir, de alguma forma, conectada com todo aquele presente que o universo dá a quem está disposto a contemplá-lo. Passei a esperar por esses momentos, acordar mais cedo para ver as diferentes colorações do Sol raiando, e sempre que possível chamava meus pais para ver os entardeceres e o nascer da Lua.

Sim, já comentei com você que eles começaram a achar que eu estava estranha, porém uma estranha mais aberta, mais calma e receptível, mas ainda ficavam um pouco preocupados com o fato de que eu passava muito tempo sozinha e saía do quarto para comentar alguma sincronicidade com minha mãe, ou curiosidade que havia descoberto. Ela me olhava com uma cara de “me explica mais” mesmo que não entendesse nada do que eu falava, e meu pai sempre levantava do sofá para ir ver a Lua para que eu parasse de chamá-lo. Voltava reabastecida depois desses instantes de contemplação e comecei a perceber o quanto as cores estavam muito mais vivas, o quanto era lindo o revoar dos pássaros se recolhendo, tudo ali à nossa disposição e, melhor, de graça, nunca havia dado o devido valor.

Passei a admirar, além do céu, as flores, a perfeição da natureza funcionando, e meu olhar começou simplesmente a mudar e a apreciar os pequenos detalhes. O véu caiu, e depois que cai não há mais volta, tudo ao seu olhar é incrível, como um presente poder presenciar. Eu sentia com o coração tudo aquilo, me tocava de uma forma profunda e aquecia algo dentro de mim. Pode parecer meio sem sentido se você não teve esse momento, mas sei que quem passou por essa fase vai se identificar, sabe aquilo de se emocionar vendo o entardecer da beira da praia? É, isso acontecia.

Essa fase marcou muito dentro e fora de mim, e por isso ela está aqui descrita em detalhes. Sigo amando contemplar a natureza, o mar, o céu e tudo o que normalmente, por causa da correria da rotina, passavam despercebidos por mim e meus olhos fechados. Se você ainda não passou por essa experiência, permita-se vivenciar algum desses momentos de manifestação da natureza, bem descansado, sem pressa ou pressão, e deixe seus olhos irem para onde forem guiados e, onde decidirem repousar, fique ali observando seus mínimos detalhes, não há desculpas, de onde você esteja é sempre possível olhar para cima. Se você não é uma pessoa diurna, e não quer ver o nascer do Sol, se programe para ver o pôr do Sol ou pesquise na internet o horário do nascimento da Lua e aprecie isso com o coração aberto, você vai sentir a conexão, é inevitável, além de se perguntar por que não tinha feito antes. Quando assentimos esse contato percebemos como somos pequenos e a natureza é perfeita. Chega, senão vocês vão me achar muito fora da casa e não vão voltar para ler o próximo artigo, que diz respeito a uma fase que vivi simultaneamente a abrir os olhos, o isolamento. Vejo você por lá.

P.S.: Mas quem se permitiu fazer isso me conte aqui se não sentiu uma sensação maravilhosa.

20 Maio, 2020

Em que momento do despertar estou? Fase 2 – Sincronicidade

Tela de computador com números iguais. Sincronicidade
Se preferir, ouça o artigo.

Bem, como você acompanhou a fase 1 (se ainda não leu, aqui está), trata-se de notar que algo está diferente em você – mesmo que não saiba bem o que é – e ao seu redor, e você percebe que não há mais volta, mesmo que seu processo comece com algo muito sutil e sendo tão somente o início dessa trajetória que nos acompanha até deixarmos esse plano. Sim, o autoconhecimento nunca acaba, sempre há alguma aresta para aparar, mas não se desmotive, pois é algo enriquecedor e compensador se ver líder da sua própria vida. Caso você esteja nesse momento confuso, sem saber muito o que está acontecendo – como foi para mim –, ou mesmo se o seu início tenha sido fluido e sentir de compartilhar, deixe seu comentário, e se precisa de ajuda em algum sentido, comente também, o intuito do Inspirações é fazer com que as pessoas fiquem à vontade nesse espaço e partilharem suas experiências, que são únicas, enriquecedoras e têm muito a acrescentar. Vamos falar nessa segunda fase, de sincronicidade.

Retomando um pouco o artigo anterior para podermos continuar, passada a fase de dor, luto, veio a aceitação de que havia algo diferente e comecei a procurar entender um pouco mais o que estava acontecendo comigo. Fui em busca de coisas que ressoavam em mim, que me faziam sorrir ao ler, que me traziam paz, conforto e de alguma forma uma sensação de pertencimento. Aqui, nesta parte da trajetória, é algo muito particular por onde começar, quem seguir, o que ler, mas um detalhe importante a ressaltar é: não tenha pressa, não queira acelerar seu processo, aprecie cada passo, silencie e escute o seu coração para sentir suas reais necessidades que devem ser supridas naquele momento.

Como comentei anteriormente, iniciei com a meditação, ela falou mais alto, mas para você pode ser uma série de vídeos na internet que uma amiga indicou ou um livro que “caiu” na sua mão, como também um mentor. Reforço, não há necessidade de sair correndo atrás do tempo perdido e querer consumir tudo de uma vez, colocando todas as ideias em prática. Leia, veja, sinta, coloque em prática, reflita se aquilo de alguma forma ressoa em você e siga. Tenha um pouco de critério e deixe as coisas fluírem naturalmente. Não é porque serviu para diversas pessoas que é certeza de que servirá a você, não é porque todo mundo segue aquele mestre que você deve fazê-lo. Inicie sua jornada sem tentar se encaixar e deixe que as peças necessárias venham livremente. Esse é o lindo do processo, o que tiver que chegar até você vai achar um jeito desde que confie, mantenha-se no fluxo e não se limite.

A astrologia sempre me encantou, sou escorpiana – para quem não é muito ligado em signos, não imagina o quanto esse é julgado erroneamente –, adoro coisas profundas, apaixonada pelo oculto, por mistérios e assuntos esotéricos, e pensa em uma pessoa intensa… Esse foi um dos assuntos que muito me atraíram no início do autoconhecimento, algo me puxava para essa área que antes de tudo isso começar já prendia minha atenção. Então, uma coisa foi levando a outra, como dito antes, quanto mais informações chegavam, mais envolvida ficava e tudo ao redor parecia ressoar, florescer e contribuir para aquele momento. As sincronicidades foram minha segunda fase do despertar – aconteciam com uma frequência tão grande que nas primeiras vezes me assustaram. Eram números, assuntos, trechos de livros, informações que conversavam com sonhos e vice-versa, eu não comentava com ninguém mas sorria por dentro como uma confirmação de que aquele era o caminho, me dando mais força para seguir e ir ainda mais a fundo. Foi o que fiz. Meus pais achavam que eu estava ficando louca, então tudo bem se você aí do outro lado achar também, isso já não me incomoda mais. E se você se encontra nessa fase não deveria se importar também. Vão olhar para você diferente a partir do momento em que sair da bolha do pensar igual, pois choca – quem ainda está preso – quando você sai da roda. É aquela mistura de Deus me livre, mas quem me dera, kkk

Eu meditava, lia artigos, via vídeos na internet, seguia pessoas que sentia me conectar e nesse primeiro momento não gastei com nada. O que quero dizer com isso? Que você não precisa colocar empecilhos para iniciar, só quando eu comprar aquele curso vou conseguir despertar de forma plena, quando eu ler aquele livro tudo vai fazer sentido. Claro que existem inúmeras ferramentas que estão à disposição para nos auxiliar, mas nenhuma vai fazer o milagre, pois quem tem o poder de fazer acontecer é você. Logo, comece agora e com o que você tem. Se você tiver só a sua vontade e um celular, já tem o necessário. O acesso às mais diversas informações está a um clique, e tem muita coisa boa por aí esperando ser consumida.

O que aconselho é sempre colocar uma intenção bem definida, e genuína, antes de qualquer coisa. Sinta o que precisa ser desenvolvido no momento – mesmo que não saiba o que é – e peça para que o melhor e mais adequado à sua jornada chegue a você. Juro que fazia, e sigo fazendo isso, e é incrível ver o quanto as respostas chegam, seja através de mensagens, vídeos, pessoas, livros que vêm de encontro exatamente com o que preciso, eu rio sozinha, pulo e agradeço sempre. Aquilo faz todo o sentido para mim e, por mais que tente explicar a alguém – até a você que está nessa fase –, não vai soar tão sincrônico como na minha concepção, porque é algo particular assim como pode ser com você. Por isso lhe digo, se a sincronicidade está chegando, ou acontecendo na sua vida, aceite, agradeça e use-a a seu favor nessa caminhada da forma que você sentir.


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18 Maio, 2020

Em que momento do despertar estou? Fase 1 – Início da jornada

Mulher na cama ao despertar.
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Senti de falar um pouco sobre esse assunto por aqui. Já havia dado anteriormente algumas pinceladas sobre minha caminhada, mas acho que vale o desmembramento de uma forma mais detalhada. O foco do Inspirações da Musa sempre foi para você, que está na caminhada do despertar, perceber que não está só, e senti que me distanciei um pouco, por isso voltemos. E como podemos mostrar para uma pessoa que não há nada de errado com ela e suas dúvidas? Mostrando as suas, se abrindo e revelando que todos nós passamos por momentos de tensão, de isolamento, de achar que não está “batendo muito bem da cabeça”, de sentir-se só até que as coisas comecem a fazer um pouco mais de sentido e você aceite e entenda que é uma nova pessoa. Pensei, assim, em fazer uma timeline da minha caminhada, transmitir como as coisas foram se desenrolando. Isso não é um passo a passo, até porque isso não existe quando estamos falando de despertar, com cada um acontece à sua maneira, e a sua causa podem ser diversos fatores. Apenas fique receptível para perceber se você se identifica com uma ou algumas das fases ou se está sentindo tudo isso de forma distinta, o que também é possível. Esse será o primeiro de uma série de artigos sobre as fases do despertar.

Primeiramente, é necessário situá-lo de que antes de embarcar nesse mundo de descobertas do meu eu a situação era bem diferente na minha forma de ver a vida. Já fiz uma mescla de vários pontos em alguns textos, porém quero ir um pouco além aqui. Tenho com isso a intenção de mostrar que cada um de nós pode despertar, não existe um mais propenso que outro, basta o sentir e o querer. Bem, meu negócio eram livros de romance, filmes de romance, séries, sites de fofoca, conversas sobre pessoas, comparações e muito foco na minha imagem e no externo, a famosa ideia de que para parecer ser você tem que ter, isso me acompanhou durante anos e acreditava que tudo se encaixaria por si só no fluxo normal da vida. Pode ser que eu vivesse em um mundo de ilusão? Pode, mas chegou um momento em que ele colapsou, comecei a me ver perdida do todo e de mim, me distanciava cada vez mais da pessoa que eu queria ser e nem percebia isso, tive que me reestruturar.

Estava sentindo que as coisas não estavam se fechando entre minha cabeça e meu coração, quase nada fazia sentido, muitas dúvidas pairavam sobre a minha mente, mas a teimosia faz a gente levar um tempo até entender que alguns aspectos estão fora de compasso. Não sabia o que era o desconforto que me acompanhava e nem por onde começar a mudá-lo. Desistir de morar no México – que era o plano, há anos – e voltar ao Brasil já foi uma atitude estranha para mim, mas não sei lhe dizer, sabia que tinha de ser feito. A partir dali as coisas se intensificaram. Uma das influências do retorno era um relacionamento da época, que meses depois acabou. Normalmente as pessoas acreditam que o processo do despertar tem de ser pela dor, mas isso não é uma regra. Há pessoas que são mais sensíveis e percebem os sutis indícios de que algo está diferente em si e ao seu redor e começam sua caminhada de forma mais suave, tranquila, sem ter de passar um grande trauma ou dor. Não foi o meu caso, a galera do despertar percebeu que para me tirar de onde eu estava – por mais que já estivesse me sentindo incomodada – ia precisar tirar o meu chão. E foi o que aconteceu, os três meses seguintes foram de uma intensidade tão profunda que eu posso dizer que eu morri e renasci nesse período.

Foi uma conjunção de fatores que fizeram com que aquele tempo tenha sido de verdade sombrio. Não saber claramente meu rumo na vida, a forma como me cobrava por ter feito um curso superior que já não queria mais seguir, dúvidas, inseguranças, ficava me questionando onde eu estava nos últimos anos que fiz tantas péssimas escolhas. Veio tudo de uma vez só, tudo ali na minha frente desmoronando – e eu junto –, sem força de segurar mais nada. Pense em semanas acordando e dormindo chorando, e no ínterim também, debatendo com meus pais como eu poderia ter feito diferente. Eu vivia um luto, naquele momento acreditava ser da separação, mas tendo um melhor entendimento depois percebi é que doía tanto porque a Josiane estava morrendo – era a única forma que conhecia de ser –, e eu mesma estava matando ela, por querer. Pense o quanto é profundo isso? Para você ser o que quer ser você tem que matar quem era e nem sempre isso é tão fácil. Se você está passando por essa fase, entenda que é difícil mesmo, estamos apegados àquela forma que conhecíamos a vida inteira, e nos jogarmos no vazio com os olhos vendados sem nenhuma certeza, essa é a impressão, é um pouco assustador, mas não tente voltar, porque aliás não há como voltar, continue firme em frente. Você consegue.

Não tinha motivo forte o suficiente que me tirasse de casa, não queria ver o Sol, não queria interagir, nem com minhas amigas da época. Começou a me sobrar tempo, e já tinha resolvido não mais remoer o passado, então me restou ir para o único lugar que tinha sobrado, para dentro de mim. Vale ressaltar que eu ainda não tinha percebido o que estava acontecendo, pois essa forma de agir perante as situações era a minha habitual, não tinha nada de novo até ali, mas aqueles momentos sozinha começaram a ser mais importantes que qualquer outro momento do dia e eu estava voltando a me sentir um pouco animada.

Foi assim que iniciaram as meditações, que em pouco tempo se tornam hábito diário, uma coisa que lia me levava a outra e mais formas de me conhecer, me identificando com o que as pessoas que eu lia falavam ou escreviam, me aprofundando naquilo tudo que parecia fazer muito sentido. Eu ainda não conseguia ter a dimensão de para onde estava indo, mas estava cada vez mais claro que aquela Josiane da vida inteira tinha partido de vez, por mais que buscasse não encontrava mais ela em lugar algum e aceitei que a partir de então teria que me redescobrir. É animador contar isso porque pode parecer dolorido – e foi –, mas foi uma benção, sabe? Então, se você de alguma forma se viu nessa história ou está sentindo um vazio aí dentro, algo incomoda você e não consegue identificar o que é, fique um pouco mais atento ao que tem chegado a você, pode ser uma conversa, uma pessoa, uma ideia que surja de repente, permita-se ficar mais disponível e aberto para aquilo que está querendo se aproximar – ou até mesmo se afastar, que pode acontecer. E se tiver que ser doido, não evite, encare com firmeza e, se sentir que precisa de ajuda, não hesite em pedi-la.

15 Maio, 2020

Quero ser instrutora de yoga

Mulher em uma postura de yoga
Me vendo fazer yoga durante a meditação (Risos)
Se preferir, ouça o artigo.

Acho que há pouco mais de um ano pensei: quero ser instrutora de yoga! Me veio durante a meditação – sim, por ser um estado de relaxamento muitas vezes respostas vêm através desse momento de conexão, já falei dele aqui –, me vi ali praticando, dando aula, auxiliando as pessoas nas posições, como estava na busca ativa por me descobrir, acreditei, é isso! Que incrível, vou ser instrutora de yoga, vou dar aulas ao mesmo tempo em que coloco meu corpo em movimento, vou ativar e dar carinho aos meus órgãos, conectar mente e corpo simultaneamente. Vem totalmente a calhar com as mudanças que estou fazendo na minha vida, que maravilha! “Como é bom meditar, as coisas ficam claras, os caminhos vão se abrindo e nos sentimos mais ligados com a gente”, conjecturei! Mesmo que aquilo não tivesse “batido tão forte” daquele estilo sem deixar dúvidas, entendi que era por aqui. Comecei a me informar sobre, pedir informações a escolas de formação, estava animada com a nova fase, que ascendia no horizonte, vamos com tudo, considerei. Perceba como somos facilmente levados por nossas emoções, damos a interpretação que queremos sem nem analisar melhor o todo.


Fui para minha sessão de terapia – que será um dos artigos da série “quero me autoconhecer, por onde começar?” – com uma alegria no rosto, pensando que já tinha tudo planejado, tinha as informações necessárias, estava encontrando respostas e estava satisfeita com os próximos passos que ia dar. Ainda bem que existem terapeutas para colocar um pouco de sanidade na nossa cabeça, para que não saiamos por aí dando vazão a tudo que passa na nossa mente. Claro que é importante tentarmos, irmos em busca dos nossos sonhos e desejos, mas daqueles objetivos realmente desejados, de coração, e não meras vontades que morrem na primeira tentativa, como foi no meu caso como instrutora de yoga. Minha terapeuta, safa que é, me manteve naquele “flow” de animação, entusiasmo, para ver até onde eu ia, me fez algumas perguntas que em instantes me fizeram ver que não era bem o que eu estava imaginando e querendo, me disse para ir pra casa refletir mais sobre o assunto, que conversávamos depois. Nem precisou muito, naquele dia mesmo percebi que na verdade era meu corpo me dando sinais de que precisava ser movimentado também, não somente o mental, e me deu uma indicação de que a yoga seria uma boa alternativa para meu momento.

Yoga deriva da palavra “yuji” em sânscrito – língua originária da Índia –, significa “unir” e vai muito além de uma prática milenar, é uma filosofia de vida “que trabalha a harmonização do corpo com a mente, utilizando técnicas de respiração (pranayamas), meditação e posturas de yoga (ásanas)”. Algo que eu não sabia muito bem mas encontrei enquanto pensava melhor sobre minha “nova profissão”. Nem preciso dizer a você que não fui atrás de me tornar uma instrutora, entendi que meu corpo pedia dinamismo, “e começou a fazer yoga”, você vai pensar. Não, voltei a correr – que amo –, fazer exercícios aeróbicos e simplesmente deletei, provisoriamente, a ideia da yoga por questões financeiras (viu como é fácil colocarmos uma desculpa quando queremos postergar?). A yoga só voltou a insistir a ser colocada em prática em março passado, a vontade veio latente e desta vez não hesitei, busquei um estúdio perto de casa, entrei em contato e pensei: agora vai! E o que veio? A pandemia e tudo fechou. Acreditei que mais uma vez a yoga ia ser adiada, mas graças a esses sincronismos maravilhosos do universo minha irmã me passou o canal de uma instrutora (Pri Leite – até linkei ela aqui, porque me senti tão agraciada com sua descoberta que compartilho sempre que posso. Para o seu bem e para cultivar o seu autocuidado, vá em frente, ela é incrível).

Ah, para deixar bem claro, eu não estava aberta a aulas por vídeo antes, tinha a crença de que yoga só poderia ser praticada presencialmente e que on-line ela não seria bem feita, por isso resisti tanto, mas com a chegada da pandemia isso caiu por terra e deixei todas as desculpas de lado, ainda bem!

Desde que comecei não parei mais, sabia que dessa vez a yoga tinha vindo para ocupar um espaço que há tempos vinha requerendo. E posso falar? Que bem que essa atividade me faz. Além do relaxamento, da diminuição do estresse, bem-estar, a yoga traz aumento de concentração, conexão e outros inúmeros benefícios. Este artigo poderia tranquilamente estar na sequência sobre se autoconhecer – porque você tem mais uma oportunidade durante os exercícios –, mas achei interessante trazê-la em meus desafios pessoais, pois ela demanda presença em cada segundo de execução. Cada uma das práticas requer que você vá um pouco além da anterior, e é possível ver a olhos nus a sua evolução, o quanto você progrediu um pouco mais a cada novo final de aula, e isso é um afago no peito e um tapinha nas suas próprias costas dizendo que você fez um bom trabalho e que é muito capaz. Este artigo vem fechar esta semana em que falamos tanto de julgamento e apontar dedos, e por isso senti de trazer a yoga porque ela vai no oposto disso. Ela ensina você a olhar para dentro, a silenciar, lhe dá a oportunidade de tomar consciência da sua própria força e luz, faz você perceber que tudo começa por si mesmo e vem coroar o que venho dizendo a semana toda, que só temos controle sobre nós e é isso que tem de importar a você. Quanto mais você cuida de si, mais você pode transbordar aos outros. A yoga fala através do coração, traz leveza e centramento, algo extremamente essencial para o momento. Convido você a se permitir sentir e fazer esse movimento para dentro.


P.S.: Levando em consideração que estamos em um momento que não pode consultar o seu médico, alerto você a ir devagar, pois querendo ou não a yoga exige do nosso corpo e não queremos ninguém se machucando por aí. Se você decidir fazer, vá devagar, respeitando e ouvindo seu corpo e suas limitações. É para ser prazeroso, não para se contundir.

Fonte: https://www.significadosbr.com.br/yoga


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13 Maio, 2020

Cultura do cancelamento

Mão de um homem com anel e um x vermelho no meio
Se preferir, ouça o artigo

Já ouviu falar sobre esse termo? A “cultura do cancelamento” foi eleita o termo do ano passado pelo dicionário Macquarie, uma eleição que leva em conta a língua inglesa, mas através das redes acaba se disseminando para outros países. A cultura do cancelamento… “envolve uma iniciativa de conscientização e interrupção do apoio a artista, político, empresa, produto ou personalidade pública devido à demonstração de algum tipo de postura considerada inaceitável. Normalmente, as atitudes que geram essa onda são do ponto de vista ideológico ou comportamental…”. Eu não sei se para você soa pesada essa denominação, mas tenho que admitir que para mim é. A partir de quando fomos encarregados de nos tornarmos juízes da conduta alheia, críticos vigilantes das atitudes de terceiros? Me parece que ficamos na espreita, apostando quem será a bola da vez, ávidos por um deslize de alguém para apontarmos cheios de razão, e quando acontece, chuva de condenações.


Esse termo resumiu o ano de 2019, porém, com a vinda da pandemia ele parece ter se enraizado entre nós. A solidariedade, a ajuda aos demais, a oportunidade de união parece desaparecer quando alguém foge da postura aceitável. Tendo um celular e podendo se esconder atrás dele, algumas pessoas sentem que são invencíveis e possuem o direito de falar o que querem sem ao menos levar em consideração que do outro lado há uma pessoa sujeita a erros e acertos como qualquer um de nós, e o que a diferencia é um holofote em si o tempo todo que não poupa deslizes. “Mas ela é uma pessoa pública, ela tem que aceitar o que falam…” me fez lembrar de uma síndrome bem colocada por uma incrível nutricionista, Lara Nesteruk. A síndrome do estuprador aborda a situação como se a vítima impelisse o agressor a cometer determinada ação, por exemplo, ao usar roupa curta à noite – na cabeça do estuprador –, a vítima está pedindo por aquilo. No caso da pessoa pública, ela está sujeita a qualquer tipo de comentário, e nesse tipo de mentalidade ela tem de aceitar o que vier. Como se, pelo fato de ser uma pessoa pública, ela já estivesse pedindo sua opinião, mas quem definiu que isso é plausível, que isso é bacana? Absolutamente nada nos dá respaldo para julgar e nossa opinião não é obrigatória. Já abordei o assunto sobre dar sua opinião quando ela não é solicitada, no artigo (DANE-SE O OUTRO! É EXATAMENTE ISSO QUE VOCÊ LEU). A não ser que tenham lhe pedido, fique quieto.


Me parece que estamos indo na contramão, retrocedendo a galope, espalhando ódio e rancor sem se importar com ninguém. Não estamos aprendendo absolutamente nada neste tempo confinados, e isso é algo triste. Você é um ser humano e por esse mero detalhe não está exime de erros. Voltemos ao círculo menor, dos que nos rodeiam, pois, se criticamos o famoso, que está distante, como ficam as pessoas próximas que estão fazendo algo que assumimos como uma postura inaceitável? O que não fica tão claro, pelo menos para mim, é por que temos essa necessidade tão grande de sempre ter um posicionamento “ou você está certo ou está errado” e a partir do momento em que você escolhe um lado quem está do outro é inimigo? Em vez de nos unirmos, estamos cada vez mais nos distanciando por acreditarmos estar do lado correto. Hoje pode ter sido outra pessoa, mas amanhã pode ser você, em um escorregão que não queria dar mas não conseguiu evitar. E aí, como ficam os apontamentos, sendo com você é justificável? Sempre é assim: quando estamos falando de nós, queremos uma nova chance ou oportunidade para repararmos nossos erros, mas não pensamos duas vezes em depreciar o outro na primeira oportunidade.


Este artigo tem a finalidade, do fundo do coração, de pedir que você não entre nessa ideia de cancelar pessoas, pois, além de não agregar em nada, lembre que você tampouco está isento de falhas. Além da responsabilidade, o fato é que o reflexo de atitudes como essa, de cancelamento, podem ser muito graves e despertar emoções densas em um momento em que estamos todos fragilizados de alguma forma. Tenha compromisso com você, mas também com as palavras que você utiliza, pois nunca sabemos o que o outro está passando, seja gentil. Dizer que a pessoa pública influenciou negativamente alguém é achar uma outra desculpa para colocar na conta do outro as suas escolhas. Cada um tem o direito de dizer o que quiser, e cabe a você acolher e seguir aquilo que compactua com seus princípios ou deixar para lá. Não somos crianças para colocar nas costas dos outros a responsabilidade de nossas decisões e muito menos para expô-los. Vou dizer por aqui, quantas vezes forem necessárias: você só tem controle sobre suas atitudes, então olhe com carinho e cuidado para elas, sendo fiel a você e suas premissas. Aceite que assim como você o outro precisa aprender por si, e quando ele estiver em um momento de queda não jogue mais areia em cima dele, ajude-o a levantar e, se não puder, pelo menos não atrapalhe.


Fonte: Dicionário Macquarie: Responsável por selecionar anualmente as palavras e expressões que mais moldaram o comportamento humano. (https://canaltech.com.br/redes-sociais/a-cultura-de-cancelamento-foi-eleita-como-termo-do-ano-em-2019-156809/)

11 Maio, 2020

Qual a necessidade de impor seu entendimento às pessoas?

Foto em preto e branco com homem gritando
Se preferir, ouça o artigo

Escrevi há poucas semanas ( VOCÊ JÁ FEZ UM BALANÇO DO QUE APRENDEU NESTE PERÍODO DE QUARENTENA?) sobre a ideia de sairmos diferentes/melhores deste período de quarentena, mas confesso que, acompanhando as notícias e o que está acontecendo no mundo real, essa esperança vem deixando de crescer. Achei de valia abordar esse assunto, e nesta pauta convido você, que sentir de comentar, ficar à vontade de manifestar sua opinião. Qual a real necessidade de impor seu entendimento às pessoas?

Se há tanto sendo falado e repercutido na ideia de nos olharmos, de viajarmos para dentro, de nos descobrirmos nesse período, então por que razão estamos cada vez mais julgadores e apontando ainda mais para as atitudes dos outros que são diferentes das nossas? Por que crucificar os outros por não estarem agindo conforme o solicitado? Se cada um cuida de si, por que encher suas redes sociais tecendo comentários ou indiretas para aqueles que não compactuam com você? O que faz você acreditar que é o dono da verdade?

Ok, foi dito para não sair de casa, para quem fosse possível trabalhar do seu lar e evitar ao máximo o contato com outras pessoas e aglomerações. Você, que tem esta oportunidade, está fazendo a sua parte, que ótimo, sente-se cumprindo seu papel, satisfeito, dentro do possível, com seu senso de responsabilidade. Porém, se o coleguinha está saindo – mesmo tendo a opção de ficar em casa –, fazendo atividades externas, como se nada estivesse acontecendo, você automaticamente se irrita, o julga, xinga e se fosse possível até o denunciaria. Você está agindo conforme o solicitado e aquela pessoa não parece estar nem aí, não é possível! Mas agora vamos pensar juntos aqui: quando você denigre, critica, aponta, você acredita estar acima daquela situação, achando que é melhor para fazer isso, certo? Qual sua intenção aí: você quer realmente ajudar ou quer sentir-se bem consigo mesmo estando do lado dos “certos” e martirizar os “errados”?


É duro, mas a realidade é que cada um sabe e cuida de si! Querer mudar o mundo impondo a nossa forma de encarar a vida só nos demanda energia, nos desgasta e surte muito pouco efeito. Se ensinamos através do exemplo, por que razão acreditamos que disseminar ódio nos outros vai resultar em algo? Aliás, será que queremos a mudança ou só nos posicionarmos de alguma forma? Se para você está claro que não deve sair de casa e tem consciência do que está fazendo por você, sua família e pela sociedade, maravilha, mas é necessário aceitar que existem pessoas que não têm a clareza que você tem e não veem as coisas da mesma forma que você, ponto. Fazer o que acha certo não torna você o juiz soberano sobre o mundo, mas lhe traz paz e consciência tranquila, e é com isso que você tem que se preocupar. Faça a sua parte, esteja atento com suas atitudes, olhar para o lado e apontar dedos é perda de tempo, além de não trazer efeitos concisos na maneira do outro agir. As pessoas não mudam por você, elas mudam quando e porque querem.


Use esse momento de confinamento obrigatório para melhorar como pessoa, se preocupando e se ocupando com as únicas coisas sobre as quais você tem controle, sua consciência e suas atitudes. Evoluir é sua responsabilidade, manter os outros em casa, não. Somos partes de um todo, mas para completar esse todo precisamos estar inteiros com a gente mesmo e isso inclui olhar nossos julgamentos e também os nossos telhados de vidro. A caminhada é longa e nós podemos tropeçar ali na frente exatamente em algo que acabamos de repreender. Sei que é um período delicado e instável, para todos nós, com uma variação enorme de humores, sentimentos e questionamentos, mas busque olhar para si e encontrar a melhor forma de lidar com isso, sem necessidade de olhar para fora e julgar. Liberte o outro de pensar e agir como você.

08 Maio, 2020

Bote sua criatividade para funcionar

Mão segurando papel escrito: "creativity doesn't need limits." Tradução: Criatividade não precisa de limites
Criatividade não precisa de limites
Ouça o artigo

Vamos falar de criatividade neste artigo, creio que ela conversa muito bem com esta semana. Quando pensamos em grandes nomes da criatividade como Albert Einstein, Thomas Edison, Steve Jobs, nos vem à mente que são gênios, com QI mais elevado e que por essa razão não há como se comparar a eles – somente confirmando o que foi dito no artigo, quando pessoas ocupam o seu lugar no mundo elas saltam aos olhos. Pois bem, essa é a história que nossa cabeça quer nos contar, aquela mesma que diz para seguirmos no ambiente seguro, no conhecido – mesmo que você o deteste –, que é melhor. Já mencionei a você antes, tentar algo novo, estudar algo que não conhecemos, nos exige disciplina, perseverança, e nós, muito espertinhos que somos, queremos colher os louros, mas não queremos passar pelo processo. “Como você aprendeu tal coisa, fulano?” “Eu sentei a bunda na cadeira, fui atrás de informações, li, reli tudo que podia e comecei a colocar em prática, errei e fui ajustando…” Uau!! Impressionante! Você está rindo? Parece óbvio, não é? Mas tem quem realmente ache que existem fórmulas mirabolantes de aprender e realizar que seja bem diferente dessa.

Existem pessoas com maior facilidade com números, outras para memorizar, para unir pontos, mas se elas não forem trabalhadas e alimentadas diariamente tratam-se de uma maior inclinação para algo, mas nada além disso. Já a criatividade é um pouco diferente, ela deve ser nutrida também, mas aqui não existe um ser mais propenso que o outro, todos nós temos acesso a ela, o que difere é o quanto você convida a imaginação para sentar-se à mesa com você durante aquele projeto que você quer tirar do papel e ainda não sabe bem como, o quanto você a estimula para estar presente e sentir-se à vontade com você. Quando crianças imaginávamos mil mundos diferentes, histórias mirabolantes, e quando chegamos à fase adulta – em que deveríamos fazer uso desmedido delas –, simplesmente as escanteamos como se não fossem mais necessárias e nos apegamos à manada. Nossa criatividade pode fazer a diferença entre um projeto dar certo ou não, fazer a diferença na vida de outras pessoas ou ser somente mais uma ideia boba. Temos dois tipos de imaginação, a sintética, que basicamente constitui-se de unir ideias, projetos já feitos em um novo arranjo, como a lâmpada elétrica, e a imaginação criativa, quando tiramos algo totalmente novo do papel, como o lançamento dos smartphones.

Trata-se de duas propostas bem diferentes mas que têm um ponto em comum, a vontade da pessoa por trás da ideia de torná-la real. E aqui eu quero citar por que trouxe os dois exemplos acima, de realidades tão distantes mas com algo similar, mesmo com mais de cem anos separando os fatos. A obsessão de seus criadores para torná-los realidade. É bem sabido, até na bibliografia escrita sobre Steve Jobs, de que era um homem bastante detalhista, focado no exímio trabalho para que tudo saísse de forma perfeita, buscando a maestria, tanto que, mesmo trabalhando nove meses em cima do lançamento do primeiro smartphone, ele mudou o design de última hora porque não estava contente. E você sabia que Thomas Edison falhou dez mil vezes antes de aperfeiçoar a lâmpada elétrica incandescente? Você acha mesmo que um dos dois estava muito preocupado com seus erros pós-tentativas? Eles provavelmente ficavam satisfeitos de entender que não era por aquele caminho. (Ótimo para incluir essa inspiração no artigo sobre erros. Se não o leu o link está aqui)

Persistência é a palavra que une mundos tão distintos e é um dos diferenciais de todos que chegaram em algum lugar de destaque. Você não precisa inventar a lâmpada ou fazer uma revolução na tecnologia – se quiser, tudo bem também –, mas você pode sim fazer muito e fazer a diferença com o que você tem para oferecer, não esqueça que há um lugar esperando por você. Quero compartilhar aqui algumas ideias de um livro¹ – somente para instigá-lo a começar –, que li baseado nos ensinamentos de Andrew Carnegie, magnata do aço – tendo iniciado como jornaleiro –, nos idos de 1900, mas que são extremamente atuais e válidas. Primeiro, tenha um objetivo bem definido, a ponto de ser seu último pensamento à noite e o primeiro pela manhã, estimulando sua imaginação. Ponto dois, una-se a pessoas que queiram compartilhar conhecimento, buscando resolver os problemas profissionais que você sozinho não conseguiria. Terceiro, vá além, sempre dê um pouco mais daquilo que você acha que é capaz e não esqueça que o plano e a vontade de fazer começam por você, esteja sempre com olho no objetivo a ser alcançado e não se perca no barulho ao redor.

Para chegarmos onde queremos, tanto no âmbito pessoal ou profissional, precisamos nos dedicar, ter disciplina, assumir nossa ignorância em alguns assuntos, pedir ajuda quando necessário, ter persistência, foco e entender que os fracassos e as derrotas do caminho nos instigam a ir em frente. Tudo que vale a pena exige uma pitada de sacrifício, paciência e muito trabalho, esses são os bastidores, não veja somente o palco. Espero que essa sequência de artigos tenha estimulado você a tirar aquela ideia do papel e lhe permita acreditar mais em si mesmo, pois tudo começa por você, então dê o primeiro passo, ele sempre é o mais difícil. Se você ainda não ficou convencido com os artigos, deixo aqui abaixo um vídeo de Mark Zuckerberg, criador do Facebook, vídeo que tomei conhecimento enquanto escrevia o segundo dos três artigos, casando exatamente com o que eu queria compartilhar. Se você não acredita nas minhas palavras, pode ser que nas dele sim… kkk

P.S.: Não é o melhor vídeo, mas foi o único que consegui com legenda em português, então não dê bola para a música impactante de fundo, efeitos, foque na mensagem que é o que vale. Desfrute.

¹ Hill, Napoleon. Como aumentar o seu próprio salário: uma entrevista reveladora com o homem mais rico do mundo. 1ª edição. Porto Alegre: Citadel, 2017.


P.s.: Quer ficar sabendo quando sai artigo novo? É só se inscrever aqui ao lado do texto na área “FAÇA PARTE DO GRUPO QUE RECEBE NOSSOS CONTEÚDOS PRIMEIRO!” preencha com suas informações e pronto. Sempre que tiver artigo novo você será avisado antes!

06 Maio, 2020

Por que fugimos dos erros?

Frase escrita em blocos - Be fearless, be you
Seja destemido, seja você!
Ouça o artigo

O homem na arena – Theodore Roosevelt

Não é o crítico que importa; nem aquele que aponta onde foi que o homem tropeçou ou como o autor das façanhas poderia ter feito melhor.

O crédito pertence ao homem que está por inteiro na arena da vida, cujo rosto está manchado de poeira, suor e sangue; que luta bravamente; que erra, que decepciona, porque não há esforço sem erros e decepções; mas que, na verdade, se empenha em seus feitos; que conhece o entusiasmo, as grandes paixões; que se entrega a uma causa digna; que, na melhor das hipóteses, conhece no final o triunfo da grande conquista e que, na pior, se fracassar, ao menos fracassa ousando grandemente.

Trecho do discurso “Cidadania em uma República” (ou “O Homem na Arena”), proferido por Theodore Roosevelt, em 23 de abril de 1910.

No artigo anterior falei sobre ocuparmos nosso lugar no mundo (link), mas faltou falarmos sobre algo fundamental que irá acontecer a partir do momento em que você começar a se colocar em ação. Você vai errar, em todas as áreas da sua vida e de formas inimagináveis – mesmo que seja detalhista e metódico –, e isso é tão claro quanto a luz do dia, porque essa é a vida quando você está em movimento. E o que tem de errado com isso? Absolutamente nada! O erro é tão somente uma das possibilidades que podem resultar das escolhas e atitudes tomadas. Eles fazem parte de quem está na arena e também do nosso crescimento, tenho certeza de que se lhe perguntasse agora algum momento marcante seu, de amadurecimento, que lhe venha à mente, provavelmente adveio de um erro cometido acompanhado de agradecimento pelo ensinamento. Quando a lição é vivida e aprendida, vemos com antecedência a possibilidade de sua repetição nos permitindo ajustar nossa vela com tranquilidade e partir em outra direção, isso não é ótimo? Então, por que razão fugimos dos erros?

A questão é que desde muito pequenos fomos ensinados a rejeitar o erro, pois errar tem uma implicação ruim, remete a repetição, trabalho dobrado, repreensão e de alguma forma punição, então, nada mais natural que fujamos dele. A dificuldade é que crescemos com essa visão e tomamos como algo extremamente negativo, nos tornamos mestres em nos enrolarmos em nossas próprias desculpas – como o perfeccionismo –, para não sairmos do lugar e culparmos a vida por todas as frustrações. Nesse aspecto nossa geração é chata e melindrosa, sempre buscando justificativas e culpados para suas fraquezas, dando-se a desculpa de acúmulo de conhecimento, de preparação para se desenvolver e agir no momento certo, sendo que o único momento certo é agora, o resto é procrastinação. O quanto você está disposto a ir à luta para conquistar alguma coisa, de verdade? E não é para mim que você tem que responder e sim para a vida – e não adianta mentir –, é ela que você vai ter de enfrentar e provar o quanto está comprometido, o quanto aguenta ficar de pé enquanto ela lhe coloca empecilhos, dúvidas, incertezas e erros. Você não é privilegiado por isso, acontece com todos de formas distintas.

Fugimos tanto da ideia de errar que paralisamos para evitar que isso ocorra, acabando, por fim, estáticos, sem evoluirmos e nos tornando eternos dependentes emocional e financeiramente. Como no discurso de Roosevelt, mencionado acima, “o crédito pertence ao homem que está por inteiro na arena, que luta bravamente…”, e isso não é certeza de vitória, mas de aprendizado sempre. Por isso, erre, erre muito, sem medos ou receios, estruture novamente, ajuste o necessário e vá de novo pela milésima vez se assim for necessário, mas não paralise. As coisas não fluirão da forma como imaginou porque a vida real é muito diferente das nossas fantasias, mas isso não significa ruim. Pare de se sabotar com desculpas, acumule tentativas, equívocos, aprendizagens e acertos, uma hora eles vêm e fazem tudo valer a pena. Entenda que os erros acompanharão você sempre, faça as pazes com eles, o mais rápido possível, e continue. Qual seria o problema de errar e começar de novo? Isso acontece o tempo inteiro. Vá com medo mesmo.